14 de jun. de 2012

Pedófilos descrevem efeito de medicamentos antilibido



Uma prisão na Grã-Bretanha está testando uma nova forma de tratamento para criminosos sexuais com o uso de medicamentos para reprimir a libido.
A prisão de Whatton em Nottinghamshire, região central da Inglaterra, abriga 840 detentos, todos eles condenados por crimes sexuais. Cerca de 70% dos presos são pedófilos. A prisão é o maior centro de reabilitação para criminosos sexuais da Europa.
Apenas os detentos que concordam em receber tratamento são enviados para esta prisão. O tempo de espera para os presos receberem o tratamento em Whatton pode chegar a três anos.

Medicamentos são distribuídos em projeto experimental (BBC)
A maior parte dos programas de tratamento para criminosos sexuais tem como base sessões de terapia em grupo, mas os medicamentos antilibido já estão sendo usados em um projeto piloto.
Lynn Saunders, a diretora da prisão, introduziu o projeto com estes medicamentos em agosto de 2009.
"Há alguns resultados animadores", disse Saunders. "O importante é que é voluntário, não há um elemento de coerção e não dá às pessoas um 'passe automático para sair da prisão'", acrescentou.
"Esta é uma das iniciativas para permitir que os prisioneiros provem que seu risco é reduzido."
Mas apenas cerca de 60 detentos usam os medicamentos. Os gráficos, no entanto, mostram uma tendência à diminuição no tempo em que estes detentos pensam em sexo.

Cérebro e hormônios
Dois tipos de medicamentos são usados nesta experiência, os inibidores seletivos de recaptura de serotonina, também conhecidos como antidepressivos, e outro tipo são os anti-androgênicos.
"Um dos grupos de medicamentos age no cérebro, diminui o volume de pensamentos sexuais. O outro diminui o hormônio sexual testosterona. Ao fazer isso, diminui o desejo sexual", explica Adarsh Kaul, diretor-clínico do setor de saúde de detentos do NHS (o sistema de saúde britânico) da região de Nottimghamshire.
David (nome fictício) tem mais de 30 anos e está cumprindo sua sentença depois de admitir um crime envolvendo sexo pelo telefone com uma adolescente de 14 anos.
"Não consigo imaginar como deve ser difícil para ela", disse David, acrescentando que o crime que cometeu pode afetar a vítima para o resto da vida.
David descreveu como costumava criar fantasias envolvendo adolescentes. Agora que se voluntariou para o tratamento com antidepressivos, ele afirma que a preocupação com pensamentos sexuais teve uma redução significativa.
"Quero ter certeza de que não vou mais cometer crimes. Entendo que a percepção na comunidade, de que possivelmente eu sou mau, mas, pessoalmente, acredito que meu crime tenha sido mau, não eu."
Robert (nome fictício), sentenciado em 2008 por estuprar meninas durante vários anos, é outro voluntário que toma os medicamentos na prisão de Whatton. Ele afirma que queria reprimir os pensamentos constantes sobre sexo.
"É um inferno. Você não consegue pensar em mais nada", conta.
Mas, Robert afirma que prender uma pessoa para o resto da vida, sem chance de reabilitação, não é a solução.
"Também somos seres humanos. Cometemos grandes erros em nossas vidas, é verdade. Mas acho que merecemos a chance de reabilitação, como qualquer outro prisioneiro."
"O que estamos descobrindo com os programas de tratamento e os medicamentos é que os homens podem mudar e eles podem assumir a responsabilidade pelo gerenciamento de seus comportamentos", disse Kerensa Hocken, psicóloga na prisão de Whatton e encarregada dos programas de tratamento dos detentos.

Consequências
Nem todos concordam com a possibilidade de reabilitação destes prisioneiros. Peter Saunders, vítima de abuso sexual infantil e que agora lidera uma organização de caridade que dá apoio a adultos que foram vítimas destes crimes, acredita que o tratamento para estes detentos precisa ser diferenciado.
"Crimes contra crianças são únicos, são diferentes de todos os outros crimes. Alguém que destrói a inocência, que ofende, machuca, viola uma criança precisa aceitar que está colocando seus direitos humanos em risco", disse.
"Crianças têm apenas uma chance na infância. A vítima provavelmente terá que viver com as consequências para o resto da vida."
O tratamento com os medicamentos que inibem a libido é feito em um ambiente muito controlado, dentro da prisão. E a psicóloga Kerensa Hocken admite que, fora da prisão, as tentações para estes detentos podem ser diferentes, um pedófilo poderá ver crianças diariamente quando sair da prisão.
"Passamos muito tempo praticando como eles vão lidar com este tipo de situação, quando eles se aproximarem de uma criança pela primeira vez, como serão suas reações, quem eles podem procurar para conseguir apoio", disse.
Mike (nome fictício) é outro prisioneiro de Whatton que está tomando os medicamentos voluntariamente. Ele relata que é pedófilo e fez "centenas, possivelmente milhares" de vítimas.
"Queria ter participado deste programa há anos", afirma. "Desde que comecei com os medicamentos, meu comportamento mudou completamente (...). É um alívio não pensar em sexo o tempo todo. Ser capaz de conversar com uma mulher. Ser capaz de ver uma mulher como um ser humano, não um objeto sexual."
Quando perguntado sobre como vai ser se ele sair da prisão, voltar à vida em comunidade e entrar em contato com jovens mulheres, Mike afirma que está preocupado.
"Honestamente, é assustador", disse.
"Mas, espero que no momento em que eu for visto como um ex-detento em uma situação segura o bastante para ser libertado, terei apoio, pessoas a quem posso recorrer caso sinta que estou voltando para aquele caminho. Não quero fazer mais nenhuma vítima."
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