6 de nov. de 2010

O vício do ‘amar demais’




Excelente profissional, competente e dedicada, Marta saiu exausta do escritório naquela sexta-feira mas  com a certeza que realizara todas as tarefas programadas para a semana. Dirigiu-se ao estacionamento para pegar o carro e ir à universidade. Aos 25 anos de idade  era bacharel em publicidade e propaganda, mas não exercia a profissão. Agora cursava o terceiro semestre de Administração de Empresas e já pensava em  cancelar a matrícula no próximo.
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Estava confusa quanto ao rumo que daria à sua vida profissional e, principalmente, à afetiva.
Na primeira sinaleira Marta dobrou para a direita e tomou o caminho de sua casa. Decidiu não ir à aula, e que  naquele final-de-semana iria pensar em tudo o que estava sentindo. Não visitaria amigos e também não os receberia. Ficaria apenas em sua própria companhia. Descobrindo-se.

***
Marta fora uma menininha quase sempre triste, mas nunca dissera isso a alguém. Seus pais  viviam envolvidos em brigas e disputas e deixavam a única filha carente de atenção e cuidados. Sedenta física e  emocionalmente.
O amor que a garota ansiosamente queria  dar aos pais era sufocado pelo isolamento emocional a que ficava exposta. O pai era um homem bem sucedido nos negócios que tinha em sociedade com a mãe. Mas era inacessível afetivamente, e a mãe estava tão consumida pelo ódio e frustração devido a falta de carinho do marido, que não percebia que cometia com a filha o mesmo erro. A garota precisou assumir prematuramente a responsabilidade de adulto porque os pais a deixavam praticamente sozinha o dia inteiro.
Ao completar dezoito anos de idade Marta  já tinha um emprego, dividiu com uma amiga o aluguel de um pequeno apartamento, e saiu da casa dos pais.
Sedenta de amor Marta teve vários namorados, mas com relacionamentos de curta duração. Até  conhecer Carlos. Ela acabara de completar vinte e um anos e ele trinta e três. Era advogado. E casado.

***
Chovia torrencialmente. Marta havia deixado o carro na oficina e agora estava ali, no meio-fio da calçada, toda atrapalhada com sua bolsa, sombrinha e livros de economia, tentando pegar um taxi para levá-la até sua casa. Mas todos vinham ocupados. A moça sentia os pés e mãos geladas, e estava com fome. Arrependeu-se de ter ido à aula naquela noite. O trânsito estava vagaroso e as buzinas ecoavam em seus ouvidos. Mas em meio a todo o barulho, ela escutou uma voz de mulher pronunciando seu nome. Era Cláudia, uma amiga, que  a chamava de dentro de um  tempra  azul-marinho. “Quer uma carona”, gritou. Marta correu até ao carro que parara à sua frente e entrou , sentando-se no banco de trás. Cumprimentaram-se, foi apresentada a Carlos, o homem que estava na direção do veículo; e comentaram sobre a chuva, sobre o trabalho  de ambas e  que estavam com fome.
Pele morena, olhos castanhos escuros e lábios encantadores. Era bonito, tinha boa aparência, mas havia alguma coisa no olhar do homem que perturbou Marta. Tinha um ar frio.   “Tenho certeza de que poderia esquentá-lo”, pensou.
O carro parou em frente ao edifício em que Marta morava. Ela os convidou para um café, mas Cláudia precisava dormir cedo. Combinaram para outro dia.
Marta entrou em casa, tomou uma ducha bem quente, colocou um pijama, meias e sua pantufa. Acomodou-se no sofá e enquanto tomava café com torradas teve aquela sensação de solidão.  No momento ela estava sem namorado. Já tivera vário, mas todos, transformaram-se em  relacionamentos insatisfatórios. Sem um homem a quem dirigir sua atenção a moça entrava em estado de abandono e, por isso, ela preferia  sempre estar com alguém, mesmo que o relacionamento fosse insalubre.
 O ar frio de Carlos voltou-lhe à lembrança...
No dia seguinte Marta telefonou para Cláudia na esperança de saber algo sobre Carlos. A amiga contou-lhe que eles haviam se conhecido em uma festa de formatura  de um conhecido em comum e desde essa data falavam-se  regularmente. “Carlos é advogado, casado, tem dois filhos mas não vive bem com a mulher. É infeliz no casamento”, confidenciou-lhe a amiga.
Duas semanas após Marta convida Cláudia para jantar em sua casa e pede para levar Carlos. Sentado à sua frente, ele já não parecia mais um homem de olhar frio,  apenas crente. Muito carente. Ela sabia-se atraída por homens carentes, pois se identificava compadecidamente com  a dor deles. Só não sabia que essa identificação era para aliviar sua própria dor. Era o desejo de ser amada e auxiliada que estava por trás dessa atração.
Nos dias que se seguiram Marta e Carlos encontraram-se assiduamente. Ele contou que a esposa tinha alto cargo executivo em uma grande empresa, era muito bonita e elegante, mas não era atenciosa com  os filhos e com ele. O casamento  estava acabado;  ele pensava em separação, mas  tinha pena dos filhos. A jovem começou a perceber Carlos como vítima e queria amá-lo para curá-lo de sua carência. Queria dar-lhe a força que lhe faltava para abandonar a mulher e seguir sua vida sendo amado por outra. Marta apaixonou-se por aquele homem carente de afeto, e  queria consertar a vida dele talvez lembrando da menininha desamada que um dia fora. Mas em vez disso, destruiu a sua. Mais uma vez.
O jovem advogado era na verdade um egoísta. Costumava ir ao apartamento de Marta  à noite, após o trabalho e sem avisar;  ou deixar  de ir quando já havia confirmado o compromisso, alegando que houvera um imprevisto de última hora. Às vezes a jovem ia  com Cláudia  ou um amigo comer uma pizza após as aulas e, se ao chegar em casa Carlos estivesse lá, ele a insultava, aos gritos,  com seu ciúmes. Mas ela o desculpava acreditando que ele agia assim porque a amava e não  estava seguro de ser também amado. Quando os dois  se encontravam  ela não conseguia o clima romântico pelo qual ansiava, pois Carlos estava sempre vendo um filme, lendo jornal ou revista. Raramente tinham um fim de semana juntos porque ele  dizia que  os filhos solicitavam sua presença em casa. Em um desses fins de semana Marta ligou para a casa dele passando-se por sua secretária. Disse à mulher que atendeu ao telefone que  precisava dar-lhe um recado. Carlos não estava. Tinha ido  a uma pescaria  com  alguns amigos. Quando Marta reclamava mais atenção, o amante brigava,  queixava-se que ela o estava pressionado e ameaçava  com o rompimento. A moça sentia-se culpada, acreditando que um bom relacionamento entre os dois só dependia dela. Ela teria que apenas amá-lo e deixá-lo em paz.
Havia passado quatro anos  desde aquela noite chuvosa  em que eles se conheceram. E por mais que Marta se esforçasse em afirmar sua paixão o abandono e as cenas de ciúmes de Carlos aumentavam. Enquanto isso, aumentava também a necessidade de Marta de receber amor, atenção, cuidado e segurança. Mas ela acreditava que seu amor por Carlos era  grande o suficiente  para os dois. Até ela conhecer Marcos.
***
A noite já se fizera presente quando Marta chegou em casa naquela sexta- feira. Enquanto aquecia a lasanha no microondas foi tomar uma ducha. Depois, serviu a mesa para duas pessoas e jantou sozinha. Entristeceu-se. Mas pensou: “Se o sexo  entre nós é tão prazeroso - quando o fazemos -  como não consegui ainda fazer com que Carlos externasse  todo o amor, o carinho, a atenção, a integridade e a nobreza  que estão dormentes em seu ser?” Marta acreditava que Carlos nunca antes fora tão  amado quanto por ela  era amado agora. A jovem achava que ele havia sido prejudicado no setor afetivo e assumiu prontamente a tarefa de compensá-lo de tudo o que faltava em sua vida. Quem, melhor do que ela poderia saber o que significa carência de afeto? Mas a empreitada era mais difícil do que imaginara. Carlos estava tornando-se  mais frio e distante  e por isso Marta sentia que ele precisava mais dela, a única mulher que poderia tirá-lo desse torpor. Mas o desafio de mudá-lo  já não a excitava como antes. E a fazia sofrer.

***
Uma garoa fina molhava a cidade naquela manhã de sábado. A jovem espreguiçou-se na cama antes mesmo de abrir os olhos. Lembrou de Carlos. Ele viajara a negócios. Ela estaria sozinha. Consigo mesma.
Levantou-se e foi até a cozinha preparar o desjejum. Enquanto tomava café preto com biscoitos amanteigados a jovem pegou um livro que há algum tempo uma amiga  havia emprestado. Abriu em uma página qualquer e começou a ler. “Se o drama e o caos sempre estiveram presentes em nossa vida, e se, como é freqüentemente o caso, fomos forçados a negar muitos de nossos sentimentos enquanto estávamos crescendo, iremos querer com freqüência que acontecimentos dramáticos engendrem qualquer sentimento. Assim, precisamos da excitação da incerteza, da dor, do desapontamento e do conflito apenas para nos sentir vivos”. Na mesma página , mais acima, leu o seguinte: “Sentir-nos-emos  à vontade com pessoas com quem nossos antigos padrões  doentios de relacionamento são recriados, e talvez facilmente embaraçados e mal com pessoas mais gentis, mais amigáveis ou saudáveis. Ou ainda, devido ao fato de faltar o desafio de tentarmos mudar alguém para tornarmos essa pessoa feliz ou para obtermos a afeição e aprovação sonegadas, poderemos simplesmente nos sentir aborrecidos com pessoas mais saudáveis”. Marta releu, pausadamente, aquelas sentenças da página 75. Fechou livro e leu a capa:
“ Robin Norwood”
“Mulheres que amam demais”
“Como vencer sua dependência do homem errado e mudar para melhor”
  Marta apoiava o cotovelo na mesa e segurava o queixo com uma das mãos. Com a outra, jogou o livro  em cima da mesa, para o lado. A jovem fixou os olhos na contracapa  e leu a frase impressa em negrito:
“Quando amar é sofrer...”
... Então você provavelmente está amando o homem errado, da maneira errada - alguém emocionalmente fechado, viciado em trabalho, bebida ou em outras mulheres... alguém que não pode retribuir seu amor!
“Mesmo assim, você insiste, se sacrifica, anula sua personalidade, continua tentando...”

“Você está amando o homem errado” repetia mentalmente Marta quando o telefone tocou. Ela olhou para o relógio que marcava 9h30min. , e continuou sentada, pensando... Da secretária eletrônica a voz de Marcos  convidava-a para  acompanha-lo a um churrasco na casa de um amigo. Deixou gravado o recado pedindo que ela  entrasse em contato com ele . Mas ela não entraria. Havia decidido ficar só,  pensando, refletindo.
***
Marcos cursava a Faculdade de  Engenharia Eletrônica na mesma Universidade em que ela fazia a de Administração de Empresas. O rapaz estava com 27 anos de idade, era alto, jovial, “mas não muito atraente”, segundo Marta. “Marcos é simpático, mas não possui nada de excitante”, confidenciou certo dia à Cláudia. Eles haviam se conhecido durante um seminário sobre Relações Humanas, organizado pela Universidade. Desde então, passaram a encontrar-se quase que diariamente, nos intervalos das aulas. Também  encontravam-se para fazer um lanche ou simplesmente conversar, quando Carlos viajava.
 O rapaz parecia mostrar  algum interesse além da amizade, mas Marta estava ligada a  outro homem. Estava ainda muito apaixonada por Carlos... tão diferente do amigo...  As histórias que Marcos contava  da sua infância  a faziam rir. Todas elas. Rir em vez de chorar, em vez de sentir pena! Marcos não precisava dela. Era seguro de si e confiante. Confiavel  também. Eles falavam sobre tudo. Ou quase tudo. O jovem sabia de seu relacionamento com Carlos  mas, embora não aprovasse , não interferia. Para Marcos, o verdadeiro amor é feito de companheirismo, serenidade, segurança, compreensão, apoio mútuo e conforto.
- Relacionamento verdadeiramente amoroso  permite que cada um seja mais inteiramente expressivo, criativo e produtivo, e as experiências são compartilhadas de forma saudável, para promover o crescimento de ambos, afirmava Marcos. Para o rapaz, o amor apaixonado é sempre direcionado para  o amante   impossível.
- Na verdade, é por ele ser impossível que existe tanta paixão. A paixão alimenta-se  de conflitos e obstáculos contínuos a serem superados, brincava o rapaz.

***

Não era a primeira vez que a moça se descobria pensando no amigo e no que ele falava. “De certa forma ele tem razão;  minha paixão por Carlos parece aumentar com o sofrimento”, concluiu .  Abriu novamente o livro. Coincidentemente na mesma página. “... se nossos pais se relacionam conosco de forma hostil, crítica, cruel, manipuladora, dominadora, ou de outras formas inapropriadas, isso é o que parecerá  ‘correto’ para nós quando nos encontrarmos com alguém que expresse, talvez bem sutilmente, sinais das mesmas atitudes e comportamentos. Sentir-nos-emos  à vontade com pessoas com quem nossos antigos padrões doentios de relacionamentos são recriados, e talvez facilmente embaraçados e mal com pessoas mais gentis, mais amáveis ou saudáveis. Ou ainda, devido ao fato de faltar o desafio de tentarmos mudar alguém para  tornarmos essa pessoa feliz ou para obtermos a afeição e aprovação sonegadas, poderemos simplesmente nos sentir aborrecidos com pessoas mais saudáveis. O aborrecimento geralmente abrange sentimentos brandos e intensos de embaraço, que as mulheres que amam demais tendem a sentir quando estão fora do papel familiar de ajudar, de ter esperança e de prestar mais atenção no bem-estar de outra pessoa do que em seu próprio bem-estar. Existe na maioria dos filhos adultos de alcoólatras, e também em descendentes de outro tipo de lares desajustados, uma fascinação por pessoas que atraem problema, e vício à excitação, principalmente a excitação negativa”. 
Marta continuou folhando o livro e lendo ao acaso.
“Existem poucos modelos de pessoas que se relacionam igualmente de forma saudável, madura, honesta, não manipuladora e não exploradora, provavelmente por duas razões: Primeira, com toda a honestidade, tais relacionamentos na vida real são bem raros. Segunda, desde que a qualidade da interação emocional em relacionamentos saudáveis é sempre muito mais sutil que o drama de relacionamentos doentios, seu potencial dramático é normalmente negligenciado na literatura, no drama e nas canções. Se estilos doentios de relacionamentos nos infestam, talvez seja porque são aproximadamente tudo o que vemos e tudo o que conhecemos”
... “Tudo acontece num contexto, incluindo a forma como amamos. Precisamos estar cientes das falhas prejudiciais da visão de amor de nossa sociedade e resistir à imaturidade  superficial e autofrustrante em relacionamentos pessoais que ela exalta. Devemos desenvolver conscientemente uma maneira mais aberta e madura de relacionamento que a forma apoiada pela indústria cultural, trocando assim o tumulto e a agitação por uma intimidade maior”. 
 Entre Carlos e Marta, após cada  briga havia uma reconciliação. E após cada reconciliação o “sexo era mais intenso, mais gostoso, mais amoroso,  mais completol” , expressava a jovem. Um sentimento totalmente adverso do que se apresentava agora, quando lia a explicação da especialista:  “Depois de um conflito, dois elementos contribuem para um intercurso sexual especialmente intenso e extasiante: um deles é o já mencionado alívio de tensão; o outro envolve um grande esforço, após a briga, de fazer com que o sexo ‘funcione’, de forma a solidificar os laços do casal que foram ameaçados pela discussão”.  (...) “Quando nos envolvemos com um homem que  não é tanto um desafio, pode faltar fogo e paixão no âmbito sexual. Devido ao fato de não estarmos quase em constante estado de excitação por ele, e de não usarmos o sexo para provar algo, consideramos um relacionamento insípido. Em comparação com estilos tempestuosos de relacionamentos   que conhecemos, esse tipo amansado de experiência parece apenas confirmar para nós que a tensão, o conflito, a dor no peito e o drama igualam-se realmente ao ‘ verdadeiro amor’”. (...) “Os gregos foram mais espertos. Usaram palavras diferentes, eros  e ágape,  para fazer uma distinção entre essas duas formas bem diferentes de experimentar o que chamamos de  ‘amor’. Eros, claro, refere-se ao amor apaixonado, enquanto que ágape descreve o relacionamento estável e compromissado, livre de paixão , que existe entre duas pessoas que se importam bastante uma com a outra”.
Marta colocou o livro sobre a mesa e tomou um gole do café já frio. Pensou novamente em Marcos. Lembrou que uma vez ele havia dito que todos os relacionamentos baseados inicialmente na paixão avassaladora acabaram fracassados. Para ele, se são necessários a  excitação e o desafio contínuos num relacionamento, essas emoções  devem ser fundamentadas não na frustração ou anseio; no agredir e ser agredido, mas sim na emoção e excitação que vêm  do conhecer e ser conhecido, do dar e receber, do compartilhar.
Apesar de todos os esforços a jovem não havia conseguido mudar o comportamento distante e frio de Carlos. Não conseguira “esquentá-lo”. Por outro lado estava  se deixando levar por uma situação que seria uma réplica  dos piores anos de sua infância: a solidão, a espera desejosa de amor e atenção, a profunda decepção e, finalmente,   pelo desespero irado. Ela estava com raiva. Raiva  de  Carlos. Não. Raiva dela mesma. Por não ter conseguido acabar antes com aquele relacionamento que só a fazia sofrer.  Marcos sempre dizia: “Querida, você merece ser feliz”. Ela respondia: “Mas eu sou. Sou apaixonada por Carlos”.  Agora, pela primeira vez, ela avaliou o relacionamento e viu que não era bom. Era somente sofrimento.  Mas viu também que era merecedora de atenção e de cuidados, que não tinha junto a Carlos. Tomou uma importante decisão: aprenderia a viver sem toda a agitação das batalhas inflamadas, sem os dramas que consumiam seu tempo e sugavam sua energia. Sabia não ser fácil. Mas iniciaria. Romperia com Carlos. Depois, procuraria um homem que a amasse, e a quem ela  também amaria com a serenidade de ágape.
Levantou e foi até ao telefone, ligar para Marcos. Desfrutaria da companhia do amigo, naquele sábado.... No domingo iria ler o livro.
Seria Marcos o seu terno amor?...
Só o tempo diria...
   
Bl.
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1998
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